domingo, 11 de março de 2018

Aquele da Crazy Series Lady












Talvez por serem tão marginalizados na época, eles costumavam despertar em mim sempre o mesmo prazer culpado. Não importava qual fosse o seriado, a sensação era sempre a mesma, de que eu deveria estar lendo um livro, fazendo um voluntariado, escrevendo um tratado de paz ou só aproveitando o sol no parque. Qualquer atividade parecia mais nobre.

Demorei muito tempo para reconhecer a importância deles, inclusive dos mais bobos. Minhas companhias das manhãs de preguiça e ressaca. Das noites de frio e solitude. Eles, que foram desde aprendizado a subterfúgio, praticamente doses de morfina em tempos difíceis.

Eu diria que tudo começou quando meu pai me proibiu de assistir Chaves e Chapolin. De acordo com ele, eu corria o risco de ficar boba como as personagens. Passei a assistir clandestinamente no auge da rebeldia dos meus tão poucos anos.

Na adolescência era minha mãe que se agastava com meu interesse pelos seriados matinais de domingo, logo nos domingos de grandes almoços. Quem troca as visitas pelos enlatados dublados da tv aberta? Porque mesmo sem internet ou tv a cabo, nessa época eu já estava completamente rendida aos encantos deles.

Vou deixar a exatidão dos anos de fora para não dar rugas ao texto, mas foi nessa época que descobri Anos Incríveis, depois veio Friends e os indícios definitivos de que eu seria a crazy series lady, mas isso só ficaria mesmo claro depois da primeira maratona de 11 horas seguidas, alguns anos e muita banda larga depois.

Recentemente comecei a rever um seriado e ouvi os costumeiros resmungos indignados. Mas dessa vez meu amor já estava forte o suficiente para não ser abalado. Eu estava lá, sem a recalcada alegria que os prazeres culpados guardam. Consegui rever sem culpa ou expectativa. Foi assim que reencontrei essas partes esquecidas de mim entre os episódios de piadas bobas que já nem lembrava mais.

Eu sempre dei créditos a pessoas, livros, lugares, músicas e clássicos do cinema, mas nunca a eles, que também são responsáveis por partes de mim tão importantes. No fim das contas meu pai tinha razão, os seriados interfeririam significativamente na minha personalidade. Eu sei que hoje em dia é muito mais cool ser hater, mas eu precisava fazer essa declaração de amor pública a eles.


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